No mercado de carros usados, exemplares com alta quilometragem têm maior desvalorização, via de regra. No entanto, se o proprietário fizer todas as manutenções em dia, dá para rodar muito e deixar o veículo em perfeitas condições. Imagine, então, um automóvel com mais de 1 milhão de quilômetros rodados.
Creso Peixoto e a mulher Giselda Aparecida posam com o Verona 'highlander',
que já alcançou 1,05 milhão de km em 28 anos Imagem: Arquivo pessoal
O engenheiro civil e professor Creso de Franco Peixoto, de 63 anos, é o proprietário de um Ford Verona 1.8 GLX 1990 a etanol que já percorreu 1.050.917 quilômetros e mantém fôlego para rodar ainda mais.
Morador de Rio Claro, no interior paulista, Peixoto conta que adquiriu o Verona usado em setembro de 1992. Na época, o sedã já tinha rodado 26.433 quilômetros.
A intenção inicial era ficar um bom período com o veículo, mas o engenheiro, que já foi piloto de avião, não imaginava que iria "casar" com o Verona e rodar tanto com ele. A união de homem e máquina está prestes a completar 28 anos.
Jornada registrada em planilha
"Muitos veem carros antigos e muito rodados de forma pejorativa. Quando o custo de propriedade sobe muito, a maioria conclui que é chegada a hora de vender. Mas, ao completar 200 mil km, decidi ficar com ele como objeto de estudo".
Creso de Franco Peixoto decidiu usar seu Verona 1990 como um objeto de estudos
Imagem: Arquivo pessoal
Professor como é, Peixoto até poderia publicar um trabalho acadêmico sobre o longo convívio com seu Ford. Desde a aquisição, ele documentou em planilha todos os gastos, manutenções e respectivas quilometragens.
A marca de 1 milhão de quilômetros foi completada no fim de maio do ano passado, diz. Alguns meses depois, o professor universitário recebeu uma homenagem da Ford pelo feito.
Como o respectivo hodômetro analógico tem apenas cinco algarismos, o marcador já foi zerado dez vezes.
Os números cuidadosamente anotados e calculados são de impressionar.
A média de quilometragem anual é de 35.714 quilômetros. Durante o tempo de convívio, ele estima já ter abastecido o Verona com cerca de 100 mil litros de etanol e colocou mais de 230 litros de óleo no motor.
Incluindo o gasto com a aquisição do carro, ele calcula já ter desembolsado mais de R$ 300 mil.
"É necessário fazer manutenção rigorosa para chegar a essa quilometragem. Desde a compra, realizo os serviços sempre com o mesmo mecânico a cada seis meses. Até os 200 mil quilômetros, segui estritamente os procedimentos descritos no manual do proprietário".
Motor já passou por 3 retíficas
Peixoto conta que durante todo esse tempo o motor já passou por três retíficas. Além disso, o chassi monobloco apresentou duas trincas, que exigiram reforços estruturais.
Hodômetro do Verona já zerou dez vezes e proprietário documentou manutenções em planilha
Imagem: Arquivo pessoal
A maior parte da rodagem aconteceu em trechos rodoviários, pois em determinada época o professor tinha quatro empregos e precisava de deslocar de Rio Claro para as cidades paulistas de Campinas, Ribeirão Preto, São Paulo e São Bernardo do Campo.
A quilometragem também incluiu trechos de estradas de terra, nos quais, acredita, as trincas surgiram.
O engenheiro civil calculou o percentual dos custos com manutenção sobre os gastos totais com o passar dos anos e da quilometragem. Em 1992, eles eram de 8%; em 2014, subiram para 35%; em 2010, chegaram a 44%; e hoje estão em 29%.
Ele também estimou as despesas por categoria ao longo de 28 anos: 38% são referentes ao combustível; 29% foram gastos com manutenção; 17% com estacionamento e pedágio; 8% com depreciação; 7% com seguro; e 1% com IPVA.
Verona de Peixoto passou por manutenção rigorosa, incluindo procedimentos preventivos
Imagem: Divulgação
Vale destacar que em 2010, quando seu Ford completou 20 anos de fabricação, o veículo ficou isento da cobrança do imposto.
Por conta da pandemia, Creso Peixoto tem rodado pouco neste ano com o Verona, que já compartilhou com a mulher - ela hoje dirige um Hyundai HB20.
Ele não cogita vender o sedã, pelo qual obteria cerca de R$ 8 mil, acredita. Também não pretende comprar outro veículo.
"Olhando no retrovisor, meu Verona cumpriu bem sua função, apesar de trazer tecnologia ainda precária, considerando os tempos atuais", avalia.
"Olhando para a frente, pelo para-brisa, acredito que este é o momento de não ter mais carro. Em um mundo conectado, a necessidade de deslocamento físico vem caindo ano a ano. Hoje vale muito mais ter um cartão de crédito ou débito e usar os aplicativos de transporte individual".